“Trabalhei
sempre com as mulheres e para as mulheres”, afirma Celeste Isabel Ferreira, professora
de Enfermagem na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).
Nascida
em Coimbra, Portugal, Celeste Ferreira tem 59 anos de idade, é licenciada em
Enfermagem, com especialidade em saúde materna, pós-graduada em Psicologia da
gravidez e da maternidade e mestrada em estudo sobre as mulheres.
Passou
43 anos dedicando-se às mulheres e à sua saúde. Trabalhou 15 anos como
enfermeira, isto até 1990, e 26 como docente na Universidade do Algarve.
No
ano 2008 Cabo Verde, particularmente a ilha da Boa Vista, foi o destino
turístico de Celeste Ferreira. “Procurei conhecer toda a ilha e fiquei
apaixonada”, salienta a docente.
De
regresso a Portugal, passado uns anos, Celeste Ferreira aposentou-se em 2013.
Contudo, diz que ainda se sentia disponível a colaborar na área da saúde. Sendo
assim, entrou num projecto de saúde com idosos, em que leccionava em duas
“universidades séniors”, em que eram espaços de aprendizagem para os
aposentados.
Em
2013 Celeste Ferreira foi convidada a participar num colóquio promovido pela
Uni-CV. Estava dado o primeiro passo para a sua posterior fixação em Cabo
Verde. Deixou seu contacto e ano seguinte, foi comunicada de que estava aberto
um concurso internacional para a vaga de docente na Uni-CV. Celeste concorreu e
ficou em primeiro lugar.
Em
Outubro de 2014 deixou seu país, sua família e rumou a essas 10 ilhas
espalhadas no Atlântico.
Celeste
Ferreira conta que tinha uma visão romântica de Cabo Verde. Quando chegou à
ilha de Santiago teve que desfazer essa visão, por esta ser uma ilha
completamente diferente da que conhecera antes, a ilha da Boa Vista. Todavia,
“consegui adaptar-me”, realça.
Cumprido
o contrato, Celeste Ferreira recebe o convite e vê seu contrato renovado por
mais um ano.
Os factos menos desejáveis
Segundo
Celeste Ferreira, as condições de trabalho na Uni-CV não são as melhores. “O
gabinete da coordenação é relativamente pequeno (e) a sala dos professores às
vezes tem muito barulho, mas é onde faço o meu trabalho, preparo as minhas
aulas, recebo os meus estudantes”, realça a docente.
Em
relação aos laboratórios, a docente salienta que nunca sentiu falta de
materiais. Porém que gostaria de ter mais recursos e condições pedagógicas.
No
que tem que ver com os colegas, Celeste Ferreira confidencia que inicialmente
percebeu uma certa dúvida por parte dos mesmos.
O estado da saúde materna em Cabo
Verde
Foto DR |
“Ainda
estamos longe daquelas que são as necessidades das mulheres”, diz Celeste
Ferreira.
Segundo
a supracitada, é necessário melhorar o acesso às consultas, o trânsito entre o
planeamento familiar, a consulta pré-concepcional, a gravidez e a vigilância no
pós-parto. Realça ainda que ainda não há uma boa relação entre os cuidados
primários e os secundários e todo o acompanhamento durante todo o caminho.
Celeste acredita que com a nova força motriz, que são os novos
licenciados, as condições serão melhoradas. Pois, “eles têm outra visão, outra
forma de olhar os cuidados, visando essencialmente a saúde”, realça.
A docente alerta que o mais importante é prevenir a doença. Alerta que antes que
a mulher adoeça, ela deve ser apoiada, rastreada de forma a prevenir adoeça.
Conclui
que a aposta na saúde materna é melhorar as condições de saúde e de vida
enquanto mãe, porque se a criança nascer de uma mãe saudável, ele provavelmente
também será saudável.
Celeste
pretende dar seu contributo para que Cabo Verde atinja o objectivo do
Desenvolvimento do Milénio.
A outra face
Celeste
Ferreira caracteriza-se como uma mulher corajosa, voluntariosa, que se adapta
facilmente às mudanças e que vai à luta à procura dos seus objectivos.
No
pouco tempo livre que diz ter, dedica-se ao conhecimento de outras áreas e da
cultura cabo-verdiana que caracteriza como sendo apaixonante.
Celeste
diz que tudo que é de Cabo Verde lhe desperta atenção. Seja música, cinema,
teatro, pintura, artesanato e gastronomia. “Estou em todas (e), sempre que
posso eu vou”, afirma.
Celeste
Ferreira é apaixonada pela cultura de Cabo Verde. Diz que está a estudá-la e
cada vez apaixona-se e interessa-se mais, nomeadamente pelos mitos e tabus que
têm que ver com a saúde materna. “É isso que me seduz: o facto de ter muita
coisa para descobrir”, conclui.
No
que tem que ver com a literatura nacional, Celeste Ferreira diz que costuma
acompanhar. Prova disso é que neste momento está a ler os últimos livros de
Corsino Tolentino e o livro sobre Onésimo Silveira, de José Vicente Lopes.
Celeste
Ferreira conclui dizendo que seu objectivo é formar os estudantes e fazê-los
amarem a enfermagem tal como ela. Para isso, procura dar suas aulas da melhor
forma, estimulando seus estudantes e oferecendo-lhes tudo de bom que tem em si.