sexta-feira, maio 13, 2016

“A minha vida foi dedicada às mulheres”

“Trabalhei sempre com as mulheres e para as mulheres”, afirma Celeste Isabel Ferreira, professora de Enfermagem na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

Nascida em Coimbra, Portugal, Celeste Ferreira tem 59 anos de idade, é licenciada em Enfermagem, com especialidade em saúde materna, pós-graduada em Psicologia da gravidez e da maternidade e mestrada em estudo sobre as mulheres.

Passou 43 anos dedicando-se às mulheres e à sua saúde. Trabalhou 15 anos como enfermeira, isto até 1990, e 26 como docente na Universidade do Algarve.

No ano 2008 Cabo Verde, particularmente a ilha da Boa Vista, foi o destino turístico de Celeste Ferreira. “Procurei conhecer toda a ilha e fiquei apaixonada”, salienta a docente.

De regresso a Portugal, passado uns anos, Celeste Ferreira aposentou-se em 2013. Contudo, diz que ainda se sentia disponível a colaborar na área da saúde. Sendo assim, entrou num projecto de saúde com idosos, em que leccionava em duas “universidades séniors”, em que eram espaços de aprendizagem para os aposentados.

Em 2013 Celeste Ferreira foi convidada a participar num colóquio promovido pela Uni-CV. Estava dado o primeiro passo para a sua posterior fixação em Cabo Verde. Deixou seu contacto e ano seguinte, foi comunicada de que estava aberto um concurso internacional para a vaga de docente na Uni-CV. Celeste concorreu e ficou em primeiro lugar.

Em Outubro de 2014 deixou seu país, sua família e rumou a essas 10 ilhas espalhadas no Atlântico.
Celeste Ferreira conta que tinha uma visão romântica de Cabo Verde. Quando chegou à ilha de Santiago teve que desfazer essa visão, por esta ser uma ilha completamente diferente da que conhecera antes, a ilha da Boa Vista. Todavia, “consegui adaptar-me”, realça.

Cumprido o contrato, Celeste Ferreira recebe o convite e vê seu contrato renovado por mais um ano. 

Os factos menos desejáveis

Segundo Celeste Ferreira, as condições de trabalho na Uni-CV não são as melhores. “O gabinete da coordenação é relativamente pequeno (e) a sala dos professores às vezes tem muito barulho, mas é onde faço o meu trabalho, preparo as minhas aulas, recebo os meus estudantes”, realça a docente.

Em relação aos laboratórios, a docente salienta que nunca sentiu falta de materiais. Porém que gostaria de ter mais recursos e condições pedagógicas.

No que tem que ver com os colegas, Celeste Ferreira confidencia que inicialmente percebeu uma certa dúvida por parte dos mesmos.

O estado da saúde materna em Cabo Verde

Foto DR
“Ainda estamos longe daquelas que são as necessidades das mulheres”, diz Celeste Ferreira.

Segundo a supracitada, é necessário melhorar o acesso às consultas, o trânsito entre o planeamento familiar, a consulta pré-concepcional, a gravidez e a vigilância no pós-parto. Realça ainda que ainda não há uma boa relação entre os cuidados primários e os secundários e todo o acompanhamento durante todo o caminho.

Celeste acredita que com a nova força motriz, que são os novos licenciados, as condições serão melhoradas. Pois, “eles têm outra visão, outra forma de olhar os cuidados, visando essencialmente a saúde”, realça.
A docente alerta que o mais importante é prevenir a doença. Alerta que antes que a mulher adoeça, ela deve ser apoiada, rastreada de forma a prevenir adoeça.

Conclui que a aposta na saúde materna é melhorar as condições de saúde e de vida enquanto mãe, porque se a criança nascer de uma mãe saudável, ele provavelmente também será saudável.
Celeste pretende dar seu contributo para que Cabo Verde atinja o objectivo do Desenvolvimento do Milénio.

A outra face

Celeste Ferreira caracteriza-se como uma mulher corajosa, voluntariosa, que se adapta facilmente às mudanças e que vai à luta à procura dos seus objectivos.

No pouco tempo livre que diz ter, dedica-se ao conhecimento de outras áreas e da cultura cabo-verdiana que caracteriza como sendo apaixonante.

Celeste diz que tudo que é de Cabo Verde lhe desperta atenção. Seja música, cinema, teatro, pintura, artesanato e gastronomia. “Estou em todas (e), sempre que posso eu vou”, afirma.

Celeste Ferreira é apaixonada pela cultura de Cabo Verde. Diz que está a estudá-la e cada vez apaixona-se e interessa-se mais, nomeadamente pelos mitos e tabus que têm que ver com a saúde materna. “É isso que me seduz: o facto de ter muita coisa para descobrir”, conclui.

No que tem que ver com a literatura nacional, Celeste Ferreira diz que costuma acompanhar. Prova disso é que neste momento está a ler os últimos livros de Corsino Tolentino e o livro sobre Onésimo Silveira, de José Vicente Lopes.


Celeste Ferreira conclui dizendo que seu objectivo é formar os estudantes e fazê-los amarem a enfermagem tal como ela. Para isso, procura dar suas aulas da melhor forma, estimulando seus estudantes e oferecendo-lhes tudo de bom que tem em si.

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